2017-12-16

Mais activo

A entrada numa actividade física organizada melhora a circulação sanguínea e aumenta o apetite. O homem é estimulado não só pela melhoria do seu próprio corpo, mas também pela melhoria na forma dos corpos alheios. E mesmo em actividades mais ou menos organizadas notam-se melhorias. Talvez pelo incentivo de, objectivamente, perseguir objectivos, as actividades melhoram substancialmente. Para as restantes poderá haver um incentivo extraordinário de fuga e de manutenção da boa forma. E na hora de regressar a casa, alguém terá que pagar com o corpo...

2017-10-30

Falo de sexo

Pela escrita, e também pela conversa, se nota quem escreve mais do que aquilo que pratica. Não pela ausência ou fartura da sua prática, mas mais pela desfasagem entre o desejo e o acto consumado. A verborreia alimenta-se da necessidade de preencher o vazio que só quem escreve sente, lá bem no fundo. Este desejo profundo que cria prosadores e poetas, quer sempre mais. Numa insatisfação permanente, qual musa, usa e abusa das palavras como escape para o acto que não lhe enche as medidas. Que fica sempre aquém do desejado. Que se desculpa com a ausência, com a distância, com a correspondência, com o desencontro. E por isso fala com o resto do corpo... A satisfação contenta, coarcta, colmata, faz perigar o desejo. A insatisfação não consegue, mas tenta. Não acalma, mas perturba. Não conserva, mas corrói. Não assimila, mas chupa do corpo, intumescendo a vontade...

2017-10-27

Hora extra

Neste fim de semana não vos esqueceis de aproveitar a hora a mais de sábado para domingo. Tendo a consciência de que aquilo que vos derem terá sempre um preço...

Como incendiários

Façam como os incendiários e aproveitem até ao final o tempo quente. Façam o que vos der mais prazer, gozando (com) a natureza. Ou, utilizando um dizer popular, queimem os últimos cartuchos...

2017-10-21

Profissão: cliente

Ultimamente parece haver alguma histeria sobre a substituição do Homem pela Máquina, no que às tarefas diz respeito. Alguma apreensão é compreensível, mas é preciso compreender como chegámos até aqui. E a culpa não está toda no lado das máquinas, nem no lado das organizações que perseguem o lucro e exploram ao máximo o trabalho de outrem. Nunca vi ninguém traçar linhas vermelhas, apesar de me sentir com vontade de traçar uma. A grande distribuição quer que eu me encarregue de pesar os produtos vendidos a granel, fazer a minha própria conta e pagamento. Já não bastava nos terem amestrado para irmos buscar os produtos ao armazém/estante, felizes por nos sentirmos independentes e com hipótese de escolha, completamente manietados por técnicas de vendas que não dominamos. Esta tendência de que quem forneça um produto não inclua o serviço em que disponibiliza ao cliente o dito produto é velha e, com o advento da automação, agravou-se substancialmente. Naturalmente não defendo que tarefas repetitivas e sem qualquer valor acrescentado continuem a ser realizadas por pessoas. As centrais telefónicas de comutação automática e os elevadores cujos botões podem ser manobrados por qualquer pessoa são sinais de evolução sem qualquer lado negativo. Mas nas pessoas incluo, obviamente, o cliente. A tendência do auto-serviço que induz o cliente a trabalhar, sem receber uma compensação por isso, apenas maximiza o lucro. São raras as gasolineiras onde o cliente não seja obrigado a pegar na pistola da bomba de abastecimento. Nas portagens, praticamente desapareceram os portageiros. Nalgumas auto-estradas até o próprio meio de pagamento deixou de contemplar todas as alternativas previstas na lei, como se a moeda do estado tivesse perdido valor naquele pedaço do seu próprio território. Há até quem alegremente pague mais por pratos em restaurantes em que dão ao cliente o privilégio de cozinhar parte da sua refeição. E tal como na liberalização dos preços, se percebeu rapidamente que, todos correm a nivelá-los por cima, também na substituição dos funcionários pelos clientes se viu que o lucro não serve para remunerar quem paga a conta. Na distribuição da energia eléctrica, e de outros serviços, há mais um serviço que o cliente tem que disponibilizar: a tele-contagem. Não fornecendo esse serviço, arrisca-se a flutuações no valor das facturas mensais e respectivos acertos, numa complexidade de valores estimados (bastante mal, muitas das vezes, diga-se de passagem) e respectivos acertos que só o fornecedor de energia parece compreender. Ele ou os seus computadores, cujo software parece favorecer sistematicamente o próprio. Sacar uns euros a uns milhões de utilizadores antecipadamente, deve aumentar o rendimento. Com a lei, obrigaram o fornecedor a ler a indicação dos contadores de seis em seis meses, o que para ele parece intervalo demasiado curto. Curiosamente a tele-contagem parece avançar em passo de caracol, apesar do colosso da empresa pública do estado chinês que domina a distribuição eléctrica em Portugal (os fanáticos das privatizações, permitiram uma nacionalização para um estado estrangeiro. Ou duas se contarmos com a REN, uma empresa ainda mais estratégica). E agora, para o leitor não se habituar mal, acrescente mais alguns exemplos e tire conclusões…

2017-10-16

Demissões estatais

Há muito aprendemos, porque assim nos ensinaram, que o Estado é incapaz de gerir bem os dinheiros públicos. Ensino tão eficaz por parte das chefias como dos restantes trabalhadores. Gerir bem dá trabalho e pode acabar com o emprego. Daí até privatizar-se tudo e mais alguma coisa, foi um caminho longo, mas do qual ainda não se vê o final. Agora teremos que aprender que o Estado não tem varinhas mágicas, para triturar os problemas. Com excepção da recolha de impostos aos mais vulneráveis, que tritura qualquer um. Se quereis as coisas bem feitas, fazei-as vós, que nós somos incapazes. E por muito que o ensino tenha evoluído e produzido melhores resultados, parecem haver gerações perdidas, que ficaram para trás. Não há forma de impedir homicídios, assaltos, corrupção, etc. Talvez por isso menos investimento na justiça, na dissuasão e na prevenção. Idem para incêndios, cheias e terramotos. Os meios nunca são suficientes, sendo investidos sempre nos mesmos, com os resultados apenas dependendo da mercê da natureza. Isto, por ventura, não abrirá caminho a um qualquer pretenso salvador do Estado falido? Que a nossa fé no Estado não arda no meio de tanta incapacidade para navegar contra ventos contrários...

2017-09-13

Dantes é que era

Antigamente é que isto era bom. No meio do spam discutia-se tudo e coisa nenhuma. É uma das vantagens da experiência. Com o tempo percebemos onde vale a pena empregarmos o nosso tempo. Sempre com conta, peso e medida, porque nos lembramos de todo o tempo que fomos desperdiçando ao longo da vida. Numa busca incessante pelo tempo que já passou, só perdemos tempo com nostalgias do estilo "no meu tempo é que era bom", esquecendo que o nosso tempo ainda não acabou... (https://groups.google.com/forum/#!forum/pt.conversa)

2017-08-20

Veneno social

As chamadas redes sociais são um espelho da sociedade que as criou e as utiliza. Um espelho algo deformado que amplia alguns aspectos, em detrimento de outros. Não há animal algum que não se sinta ofendido por isto ou por aquilo que se encontra nas redes. E o mesmo animal, por isso, sente-se no direito de ofender, acreditando claramente que dois erros anulam-se ou criam algo de bom. As figuras mais ou menos públicas ou não chegaram a embarcar nesta barca, temendo pela exposição cibernáutica, que atrai os necrófagos daquele mundo e deste, ou começam a pôr na moda a necessidade de se afastarem para não se sujarem com a porcaria que lhes atiram. A imundície que vem ao de cima no tráfego de informação que a Internet e, mais recentemente, as redes sociais permitem, não é novidade. Desde sempre que o anonimato, ou a sensação de não ser apanhado, permitiu que alguns fossem valentes, uma vez que nunca necessitam de provar a sua valentia. O conforto da protecção oferecida pela distância física aos alvos, potencia o confronto e digitaliza o clássico agarrem-me se não vou-me a ele(a). E isto permite qualquer tipo de assédio e de linchamento popular. Logo agora que o popular foi convertido em viral. E tal como os vírus que se multiplicam exponencialmente, também estas viroses nada trazem de saudável. Este caldo, cozinhado pela sociedade de utilizadores, envenena a rede social. E esta última, envenena a sociedade em geral, numa realimentação positiva, com efeitos tão negativos. Espaços que poderiam ser usados para troca de informação e de ideias salutares, onde é possível concentrar-nos mais no conteúdo do que no autor, são um autêntico desperdício de largura de banda. O insulto e a falta de respeito tornam-se a norma, expulsando os mais válidos para outras praças. Quem sabe filtrar o que lhes faz bem, sai de perto das fontes de poluição, tal como se faz no mundo real. Mas a realidade é que o Homem deixado sem controlo, comporta-se como o animal irracional que é. Endosso desde já as minhas desculpas a todos os outros animais irracionais que, mesmo não lendo, compreendem-nos o suficiente para de nós se afastarem...

2017-07-17

A lotaria do regloscópio

Não há inspecções verdadeiramente independentes, quando há possibilidade de escolha da entidade inspectora. Por mais que as normas exijam separação entre a produção e o lucro, não conheço entidade alguma que não exista para fazer dinheiro. Mesmo as que conseguem obter a designação de serem sem fins lucrativos, necessitam de dinheiro para viver. E se há instituições sem fins lucrativos que lucram muito mais do que as outras... Este intróito já terá preparado o leitor para o que aí vem. Mas nem por isso. Não é este o tema central, apesar de associado. Discorro sobre a impossibilidade de indiscernibilidade entre entidades e, até mesmo, dos próprias centros de uma mesma entidade. Porque cada entidade é uma entidade. E cada centro é um centro. E, obviamente, cada inspector é um inspector. Não quero dizer com isto que uns são corruptos e outros não. Vou aqui assumir que todos estão de boa fé neste ramo. Com a vontade de moralizar o sector e arrecadar mais algum, o Estado permitiu a abertura de novos centros. Aproveitou e acenou com uma nova área de inspecções: a categoria L. Entretanto descobriu-se que a categoria L não iria cobrir os motociclos de baixa cilindrada, deixando de parte a esmagadora maioria dos veículos de duas rodas. Arrisco até a dizer que deixou de lado os veículos de duas rodas mais poluentes, descuidados, degradados e alterados. Enquanto as entidades esperam pelas novas inspecções, vão aproveitando a actualização extraordinária dos preços das inspecções, que tinham ficado durante anos congeladas, não se percebe bem porquê. Os inspectores aguardam pela formação e alguns foram tirar a carta de condução de categoria A (ficarão motards experientes num ápice, prontos a dominar as motas mais potentes e pesadas). No meio da parafernália de equipamentos que cada centro de inspecções tem que possuir, entre os quais alguns que nunca ou muito raramente usa, existe um enigmático que dá pelo nome de regloscópio. Não é mais do que um sistema que permite trazer para perto a projecção dos faróis dos veículos, os quais foram projectados para projectar a luz bem mais longe. Tão simples é o seu princípio e tão complicada tem sido a sua utilização. Sem definição clara e quantificada de valores de aprovação e de reprovação, que variam de veículo para veículo, têm sido usados dependendo do bom senso e da perícia de cada inspector. Uma questão de sorte, que tanto choca com a questão da qualidade. As novas definições estarão para ser aplicadas em breve, cabendo a cada cliente prestar atenção ao trabalho do inspector para confirmar se tudo foi feito correctamente. Como o cliente dificilmente será um especialista na matéria, terá que se contentar com a qualificação dos inspectores e das entidades para esse trabalho. Agora multipliquem isto por todos os ensaios que passarão a ser feitos a apenas alguns dos veículos de duas rodas mais potentes. Isto para não falar nos acidentes e pequenas quedas dos visados, teremos muita sorte se tudo correr sem azares...