2015-03-17

Súbito óbito

As relações não morrem subitamente. Vão morrendo lentamente às mãos dos intervenientes. Tal como os cigarros não matam imediatamente o fumador, são os pensamentos, palavras, actos e omissões dos cúmplices culpados, que o levam à agonia final. E não é preciso que fumem vários maços por dia. Basta-lhes deixar a dose venenosa subir lentamente ao longo do tempo. Não fazendo desintoxicações regulares, o veneno acumula-se e provoca sintomas. Os quais podem ser ignorados ou observados, desde que ao outro imputados. A não aceitação do outro tal como ele é, é um veneno poderoso. Ainda que administrado em pequenas quantidades, acaba por ter um resultado inexorável, a longo prazo. Ao contrário de uma dose elevada logo no início, que impossibilite sequer o início da ligação. A culpa arrisca-se a ser a única a não morrer solteira, independentemente da opinião dos participantes tentarem casá-la com o outro. Com o oponente. E essa divergência pode tornar-se central. No final, alguém tem que atestar o óbito.

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